segunda-feira, 26 de março de 2012


Lidar com problemas pessoais dos funcionários 



Um parente que está muito doente, um relacionamento que chegou ao fim, uma frustração ligada à vida pessoal. Vários problemas são capazes de tirar a concentração de um funcionário e prejudicar o trabalho. O que fazer quando isso acontece? Para consultores e profissionais de saúde, os empregadores ainda não sabem como responder à pergunta, o que revela certo despreparo e pouco caso em relação às emoções dos colaboradores.

O Instituto Ethos, organização não governamental (ONG), que ajuda empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, é uma das defensoras da tese de que a empresa pode e deve auxiliar seus empregados a resolverem crises pessoais. Para tanto, a ONG aconselha as organizações a pesquisarem entre seus trabalhadores que aspectos de suas vidas pessoais dificultam a concentração nas tarefas durante o horário de trabalho; evitarem marcar reuniões e outros projetos em horários que o empregado estaria, normalmente, com a família; oferecerem dias livres para que os colaboradores possam resolver seus problemas pessoais em regime de compensação e várias outras medidas.

O problema é que a maioria dos empregadores ainda não faz isso. E o pior, não estão preocupados com o assunto. De acordo com a médica do trabalho, Margarida Barreto, especialista em violência moral no trabalho, em 90% dos casos as empresas se mantêm omissas quanto à saúde psicológica de seus colaboradores. “Muitos empresários ainda têm idéias retrógradas quando se trata da qualidade de vida de seus trabalhadores, pensando em aumentar a produtividade e a lucratividade de sua empresas”, explica a médica. A falta de atenção aos problemas que um funcionário enfrenta fora do escritório pode levá-lo, inclusive, a adoecer.

Quando a empresa não respeita o momento difícil que um colaborador está enfrentando, o problema pode se tornar ainda mais grave e dar início a uma situação de estresse e falta de motivação para o trabalho. A pressão para continuar produzindo coloca os trabalhadores em uma situação de vulnerabilidade para uma série de transtornos mentais, explica Margarida. A partir daí, é fácil surgirem outras dificuldades como cansaço, fadiga mental, depressão, síndromes de burnout e do pânico, lista a profissional.

Apesar disso, há a cobrança pela separação dos problemas pessoais da vida profissional, que agrava ainda mais o estado de quem está sofrendo por algo não relacionado à empresa. “Esse é um velho discurso para o qual muitos apelam, mas não somos um corpo fragmentado e as emoções e sentimentos não podem ser colocados em uma maleta e deixados em casa”, acredita Margarida. Portanto, é quase impossível não levar um sofrimento de casa para o escritório.

Na opinião da médica, prima-se pelo discurso de responsabilidade social, mas nem sempre há a capacidade de se zelar pelo bem estar e pela qualidade de vida dos trabalhadores. Além disso, a situação se complica porque há uma cobrança constante da sociedade por uma postura “sempre feliz”. Essa maneira de se comportar perante o mundo acaba criando o que a profissional de Saúde chama de “política do contentamento geral” e estimula o cinismo e a indiferença com o sofrimento do outro

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário